TAKE I
Pensei diário e escrevi. Aquilo que escreveria a um diário meu, se o tivesse. Mas não tenho, nunca tive. Depois fui pegar neste diário do Clã e ler o que os outros antes de mim disseram e fiquei sem saber que poderia dizer: não, aquele não era o diário que eu imaginava. Também não era um diário de bordo, com relatos do que se ia passando nos ensaios. De certo modo seria uma coletânea ao mesmo tempo mais e menos pessoal, porque quase sempre falavam do teatro, do que pensavam do teatro. E eu? Não sei. O teatro apareceu na minha vida por acaso. Cada experiência é um passo, por vezes uma luta. Surpresas, muitas, alegrias, contrariedades, descobertas, vitórias e derrotas… Por vezes é o corpo, o todo que ele é, que procura desistir. Nem sempre é fácil convencê-lo do contrário.
Mas o meu eu que manda, insiste. Mesmo se por culpa minha também me sinta um elemento estranho. Como agora a escrever neste diário. E a ter de ler para todos. Terei de imaginar que estou no palco e que sou apenas uma personagem, não um dos meus eus. Aquele que gostaria de estar em qualquer outro lugar menos aqui.
TAKE II
Estou sozinha no meio de tanta gente, uma espécie de observadora de um espetáculo que gira em overdrive. Não dá para interiorizar, para de facto partilhar, mesmo que tente. O movimento, o ritmo é demasiado rápido ou eu sou demasiado lenta…
TAKE III
Será que fazer parte da Tribo chega para perceber o que seja o teatro visto da perspetiva dos atores? Eu diria que não. Esta experiência imersiva tem teatro, ou pelo menos aquilo que eu penso ser o teatro. E afinal, o que penso eu?
A minha ideia de teatro mudou quando passei a integrar a Tribo, porque a Tribo não é teatro convencional, aquele que sempre tinha conhecido. Mas é diferente essencialmente no processo, o objetivo final e na mesma representar para um público um texto que, esse sim, é construído de forma diferente. Diz o Google que a origem do termo é grega (eu sabia, mas tinha já esquecido…) e significa “lugar de onde se vê”. Portanto, começou por designar o local de onde o público assiste ao espetáculo. Depois acrescenta que o homem primitivo fazia teatro para expressar sentimentos, a sua fé e para contar histórias sobre a vida quotidiana. Simplista, mas verdadeiro!
TAKE V
Pois, não há TAKE IV, se não iria voltar ao texto que escrevi inicialmente: demasiado intimista e aborrecido para ser lido em voz alta. Para todos. Esse fica só para mim, é melhor assim.
Clara Oliveira